domingo, 8 de junho de 2008

Bloco das muriçocas gigantes


Andando pelo meu bairro, compreendi algo que sempre passara diante dos meus olhos acomodados: as incessantes construções de edifícios tomando o lugar das casas de outrora.

Algumas ainda sobrevivem, em meio aos espigões que emergem a cada ano, porém essa realidade não está longe de ser arquivada, afinal, pelo progresso, de tudo se abdica.

Por tanto tempo não me ocorreu de prestar maior atenção em tal realidade, ainda que a cena estivesse clara como uma fotografia em movimento. Até que conheci uma outra cidade que me fez voltar dentro da memória e avaliar o meu lar, desde os meus tenros anos de vida, até o presente momento, e analisar o solo em que constituí minha vida.

O mundo mudara, e junto se foi o meu terreno, que padeceu na ideologia evolutiva e lançou naquele sítio as mais altas construções (incluindo o arranha-céu do nordeste, aquele que veio espiar, do topo dos seus 42 andares, o clube branco e rubro, que Borsoi algum tempo atrás projetara). A infância, contida nas lembranças da província com visões futuristas, tato interiorano, cheiro de nostalgia, sons carnavalescos e sabor de reprise, não foi repetida, por causa da condição inerente a qualquer energia, matéria ou ser vivo: crescer, transformar, desenvolver.

Diante desse anseio constante, temos um novo quadro de um lugar que, apesar dos grandes apelos da construção civil, ainda assim resiste à tentação de entregar os seus maiores trunfos: o das casinhas ao redor da granja, residência do chefe do executivo estadual; dos pernilongos que ali fazem sua morada fiel; das ruas de paralelepipedo e praças, aspectos rurais em meio a um bairro dominado pela alta da imobiliária.

Perdemos algo grandioso, como o retrato do mar e seu horizonte, para as montanhas de concreto e argamassa, que na falta de um coletivo chamarei de SESA (Setor de Edifícios Super Altos), mas não perdemos a alegria emanada do bairro que gerou o maior carnaval de rua e que ainda faz muita gente se coçar.

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